
Alimentação do bebé – quando e como começar?
“A nutrição correta durante a vida é o fator essencial para determinar a qualidade de vida que uma pessoa poderá esperar nos anos mais avançados.” Jill Shuman
Introdução alimentar
Até aos 6 meses de idade, o leite materno é o melhor alimento que pode oferecer ao seu bebé. Existe, inclusive, um consenso mundial de que a sua prática exclusiva é a melhor maneira de alimentar os bebés até aos 6 meses de vida. Este trata-se de um alimento completo capaz de satisfazer as necessidades nutricionais até ao fim desse período, promovendo um crescimento adequado e, para além disso, a amamentação promove laços afetivos entre a mãe e o bebé!
Contudo, a partir dos 6 meses, as necessidades nutricionais do bebé aumentam e deve iniciar-se a introdução alimentar. São introduzidos novos alimentos, que juntamente com o leite materno, irão fornecer ao bebé nutrientes que irão contribuir para um crescimento equilibrado e, como tal, os pais devem optar por fazer escolhas variadas e com qualidade.
A diversificação alimentar é uma fase bastante importante para o bebé, uma vez que se trata de uma etapa de desenvolvimento onde este irá desenvolver a capacidade de mastigação e de deglutição. Trata-se de um mundo totalmente novo para o bebé, onde descobre o gosto por novos sabores, texturas e cheiros e que o torna cada vez mais autónomo e curioso.
A alimentação é um fator que influencia largamente a programação da criança, tanto ao nível do paladar como do comportamento. Contudo, é sobretudo fulcral para a programação metabólica, uma vez que a introdução correta dos alimentos complementares irá ter efeito no metabolismo, composição corporal e fisiologia da criança. Deste modo, durante a diversificação alimentar devem apenas fazer parte da alimentação da criança alimentos que se encontram presentes na Roda dos Alimentos. Assim, existem alguns alimentos que não devem fazer parte da escolha dos pais para esta fase, nomeadamente os alimentos processados, como bolachas, pizzas, entre outros. Por outro lado, também alimentos com adição de açúcar (doces, bolos ou sumos) ou sal devem ser excluídos da alimentação da criança, uma vez que estes dois ingredientes são proibidos durante o 1º ano de vida.
Alimentação complementar – quando é que se deve iniciar?
Antes de mais importa referir que não existe uma idade correta para iniciar a introdução dos alimentos, uma vez que varia de bebé para bebé, em função do seu desenvolvimento. Contudo, é recomendado que a alimentação complementar tenha início entre os 4 e os 6 meses, sendo que nunca deve iniciar antes do quarto mês nem muito depois do sexto.
Quando chega esta fase, antes de iniciar a introdução dos alimentos, é fundamental avaliar o estado de maturação e a capacidade neuro motora do bebé e perceber se este consegue segurar bem a cabeça e se tem capacidade de fechar a boca para conseguir engolir os alimentos.
E como é que se pode oferecer a comida ao bebé?
Existem dois métodos que são recorrentemente utilizados na diversificação alimentar: o método tradicional e o baby-led weaning. Conheça a diferença entre os dois métodos:
- O método tradicional consiste num período de adaptação que ocorre ao longo da diversificação alimentar, no qual o bebé se vai adaptando às novas texturas, através da utilização de uma colher específica para a idade da criança, que vão aparecendo de forma gradual até este estar totalmente autónomo.
Este método traduz-se essencialmente em três fases: inicialmente a introdução dos alimentos inicia-se com uma textura cremosa, em formato de puré; posteriormente, progridem para uma textura pastosa e, por fim, o bebé começa a treinar a mastigação através de pequenos pedaços de comida.
- Por outro lado, no método baby-led weaning os alimentos que são dados à criança são iguais aos da restante família e não são oferecidos através de uma colher, uma vez que este método se traduz na oferta dos alimentos em forma de “finger foods” e, assim, a criança irá levar os alimentos à boca com as próprias mãos. Enquanto no método tradicional verificamos que as refeições têm o auxílio de uma colher, para além de que ocorre uma escolha por parte dos pais relativamente aos alimentos que irá oferecer à criança e a respetiva consistência dos mesmos, no baby-led weaning os pais disponibilizam vários alimentos ao seu filho e este irá optar por pegar naqueles que preferir e consumir a quantidade que desejar. Deste modo, é fulcral que os pais percebam se a criança fica saciada ou se ainda sente fome.
Mas será que existe alguma ordem para introduzir os alimentos?
A resposta é sim! É importante começar por estimular o paladar da criança, sem a oferta de alimentos doces, sendo o caldo ou creme de legumes o melhor alimento para oferecer numa primeira fase da introdução alimentar. Ambas as comidas referidas podem conter batata na sua composição, contudo é fundamental que não seja adicionado sal. A introdução da sopa deve ocorrer entre os 4 e os 6 meses.
Para além do creme de legumes, entre os 4 e os 6 meses, também pode ser oferecida ao bebé papa de cereais sem glúten e sem adição de açúcar ou sal. A papa deve ser preparada com o leite materno ou fórmula infantil, no caso de ser uma papa não láctea. Caso a papa seja láctea, ou seja, já contenha leite, deve então ser preparada apenas com água.
No seguimento da introdução dos legumes e da papa de cereais, após 2 a 3 dias, deve ser introduzida a fruta. Normalmente, as primeiras frutas que são introduzidas são a maçã, a banana e a pera, sendo oferecidas cozidas em formato de puré. É importante referir que as frutas não devem substituir uma refeição.
A partir dos 6 meses, é essencial que se comece a introduzir a carne e o peixe, tendo em conta que no período entre os 4 aos 6 meses, as reservas de ferro tendem a esgotar-se, o que terá influência no desenvolvimento cognitivo da criança. Tanto a carne como o peixe devem ser oferecidos numa quantidade de aproximadamente 30g/dia, devendo ser triturados e incluídos no final da cozedura da sopa. Deve optar por introduzir primeiro as carnes magras (como o frango, peru ou coelho) e quando o bebé se aproximar dos 12 meses, pode incluir outras variedades de carne, como borrego ou vaca. Importa referir que a carne de porco não deve ser introduzida durante o primeiro ano de vida, uma vez que é passível de provocar alergia à criança.
Relativamente ao peixe, este pode ser introduzido no seguimento da carne, devendo também optar pelos peixes magros (pescada, linguado, etc) visto que estes têm uma digestão mais fácil. Após 2 a 3 semanas, pode então oferecer peixe gordo, como o salmão. Contudo, devido ao seu elevado teor de gordura, estes podem vir a não ser bem tolerados pela criança e, caso aconteça, deve nesse cenário optar por dar uma porção menor (15g ou menos) ou atrasar a sua introdução e só voltar a tentar oferecer por volta dos 10 meses de idade.
E se quiser oferecer ao meu filho uma alimentação vegetariana?
Neste caso, em vez de oferecer carne ou peixe na sopa, pode optar por introduzir o tofu fresco e ao natural, numa quantidade de 30g/dia.
A partir dos 7 meses, deve começar-se a adaptar a criança a novas texturas. Assim sendo, a carne, o peixe e o tofu podem começar a ser oferecidos sob a forma de farinha de pau ou açorda, juntamente com hortícolas. No entanto, o pão escolhido deve ser de preferência sem sal.
Entre os 7 e os 8 meses, podem também começar a ser introduzidas as leguminosas. Estas devem ser oferecidas numa pequena quantidade e ser bem demolhadas ou germinadas e sem casca. No início, deve-se optar por dar lentilhas, feijão frade, branco, preto ou azuki e, de forma gradual, podem ser introduzidas as restantes.
Aos 8 meses, é também expectável que se comece a incluir alimentos com uma consistência mais sólida. Por conseguinte, deve alterar-se, gradualmente, a textura da sopa, passando esta a ter uma textura mais granulosa. Nesta fase, também já é possível começar a oferecer o arroz e a massa, desde que se encontrem bem cozidos.
A partir deste mês, pode ser introduzida a proteína de cânhamo, mas só deve oferecer, no máximo, 1 colher de café por refeição. Aos 9 meses, pode progredir para uma colher de sobremesa.
Entre os 8 e os 9 meses de vida, pode começar a dar ao seu bebé iogurte. Contudo, é importante que o iogurte seja natural, sem aroma e sem natas, devendo ser oferecido para substituir uma refeição de leite ou papa. Caso o seu bebé siga um regime vegetariano, pode introduzir um iogurte de soja, sendo todavia de extrema importância ler com muita atenção a sua lista de ingredientes, devendo optar por um que seja natural e sem adição de açúcar. Apesar do iogurte ser natural, pode optar por adicionar fruta ao mesmo.
Aos 9 meses, de modo a substituir a carne ou peixe numa refeição, pode introduzir a gema de ovo. Esta deve ser oferecida sempre cozida e pode ser utilizada quer na sopa, quer no prato. No caso dos bebés vegetarianos, a gema pode ser introduzida aos 8 meses e a clara de ovo aos 9 meses.
Como é que deve introduzir a gema do ovo?
Deve ter em atenção estes passos para a sua introdução:
- 1ª vez à Oferecer apenas ½ gema;
- 2ª vez à Oferecer a gema inteira;
- Vezes seguintes à Já pode ser oferecido o ovo inteiro.
Nesta altura, pode também começar a incluir na alimentação da criança os frutos oleaginosos (como a noz, amêndoa ou o amendoim) e as sementes oleaginosas (como as de abóbora, girassol, entre outras). Estes devem ser oferecidos de forma triturada e ao natural, ou seja, sem adição de sal.
As algas podem também ser introduzidas a partir dos 9 meses, mas devem ser oferecidas em pequenas doses e como complemento da sopa. Devem optar pelas algas nori, wakame e arame, por serem algas que contêm um menor teor de sódio e iodo.
A partir dos 10 meses, pode finalmente começar a dar ao seu bebé o 1º e o 2º prato ao almoço e ao jantar. No entanto, recomenda-se que retire a carne, o peixe e o ovo da sopa, se os for servir no prato, isto porque não deve ultrapassar as 30g/dia de proteína animal.
Entre os 11 e os 12 meses, já é possível começar a introduzir ao seu bebé o seitan e o tempeh.
Algumas notas que deve ter em atenção:
- Deve excluir por completo, durante o 1º ano de vida, a adição de sal e açúcar aos alimentos.
- O leite de vaca também não deve ser introduzido durante o 1º ano de vida. Após os 12 meses, o ideal será manter o leite materno ou uma fórmula infantil até aos 24-36 meses, contudo já é possível oferecer o leite de vaca meio-gordo ou gordo.
- Não se esqueça de oferecer água ao seu bebé, sobretudo quando estiver a fornecer uma alimentação mais sólida e a temperatura ambiente se encontrar mais elevada. Não deve substituir a água por sumos de fruta ou chás açucarados.
- Evite dar alimentos ao seu filho como uma forma de recompensa ou castigo. Deve também evitar que durante o momento da refeição a criança esteja distraída a ver desenhos animados, jogos ou vídeos, uma vez que irá comprometer a capacidade da criança em reconhecer os sinais de saciedade e fome.
A partir do 1º ano de vida, inicia-se uma etapa diferente onde a criança pode iniciar a alimentação familiar. Recomenda-se que seja uma alimentação saudável, equilibrada e variada, onde estejam incluídos alimentos de todos os grupos da Roda dos Alimentos e que sejam oferecidos nas porções recomendadas. Não se esqueça que deve dar uma maior preferência aos alimentos frescos, locais e sazonais.
Esta etapa na vida da criança é bastante importante, dado que o contacto com novos paladares aumenta a possibilidade de serem aceites. Deste modo, é fundamental que, desde cedo, a criança esteja habituada a uma alimentação variada e equilibrada.
Apesar de esta ser uma fase muito bonita e divertida, pode também ser complicada, se a criança não estiver recetiva a novos sabores. Deixamos-lhe algumas dicas para ajudar a ter sucesso durante este período:
- Permitir à criança provar novos alimentos;
- Não deve forçar. É importante que dê o tempo necessário à criança para se habituar;
- Repetir os mesmos paladares, até estes serem aceites;
- Se necessário, pode complementar a refeição com leite.
Nunca se esqueça de um pormenor importante, deve sempre respeitar o ritmo do seu bebé e uma alimentação saudável, equilibrada e variada é um fator fulcral para determinar a qualidade de vida do seu filho!
Referências:
Levy, L., Bértolo, H. (2012). Manual do Aleitamento materno: Comité Português para a UNICEF e Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés. Disponível em: https://www.unicef.pt/media/1581/6-manual-do-aleitamento-materno.pdf
Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentação nos primeiros 1000 dias de vida: um presente para o futuro. E-book n.o 53. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2019.
Carla Rego et al. Alimentação Saudável dos 0 aos 6 anos – Linhas de Orientação para Profissionais e Educadores. PNPAS, 2019.