
Reformulação de produtos alimentares
Promover uma alimentação mais equilibrada passa pelo aumento da sensibilização dos consumidores para a relação entre alimentação e saúde, através de sessões de educação alimentar. Mas o ambiente alimentar desempenha também um papel crucial! De facto, melhorar o ambiente alimentar irá ajudar a facilitar as escolhas dos consumidores, por existir uma maior disponibilidade de produtos mais saudáveis. Deste modo, há uma preocupação cada vez maior por parte da indústria alimentar em produzir produtos alimentares mais equilibrados, tendo vindo, portanto, a apostar na reformulação dos produtos de modo a reduzir os teores de sal, açúcar e gordura, principalmente a saturada, e a quantidade de aditivos presente nos mesmos, tornando os produtos cada vez mais clean label.
Reformulação nutricional – um compromisso com a saúde pública
Os produtos industrializados representam uma grande parte dos produtos que se encontram disponíveis no mercado e apesar da sua praticidade, a maior parte apresenta uma quantidade excessiva de sal, açúcar e gordura. À medida que os alimentos industrializados passam a estar cada vez mais presentes na alimentação da população, é cada vez mais urgente analisar a composição nutricional dos mesmos e pensar na sua reformulação. Um estudo publicado em 2019 demonstrou que a reformulação no sentido de diminuir os teores de sal, açúcar e ácidos gordos trans dos produtos alimentares disponíveis no mercado português, poderá ter contributo na redução da mortalidade associada às doenças crónicas, sendo que poderá ser capaz de salvar 798 vidas num ano. Apesar da reformulação ser um grande desafio para a indústria e retalho alimentar, otimizar o perfil nutricional destes produtos é a solução para os tornar mais equilibrados e melhorar os hábitos alimentares da população e, consequentemente, melhorar a saúde dos consumidores.
Quais são os desafios da indústria alimentar na reformulação de produtos?
A reformulação de um produto é um processo complexo que envolve vários departamentos e muitos fatores dentro de uma indústria alimentar. Para além da nova formulação de ingredientes, é necessário especificar o produto, realizar testes sensoriais e de controlo de qualidade e tratar de um novo design e comunicação para a embalagem.
No que toca a desafios sensoriais, existe uma preferência inata do ser humano pelos gostos doce e salgado. Nesse sentido, nem sempre os consumidores estão dispostos a aceitar mudanças no perfil sensorial (sabor, aparência ou textura) do produto, mesmo quando melhoram o seu perfil nutricional. No entanto, para além dos desafios a nível sensorial, existem também desafios tecnológicos que envolvem o controlo enzimático e microbiológico.
No que diz respeito ao sal, apesar de haver a necessidade urgente de reduzir o seu teor em alguns produtos, nem sempre é fácil para a indústria avançar com essa redução. O sal, para além da sua capacidade de melhorar o sabor, é bastante utilizado pela indústria alimentar devido à sua capacidade de reduzir a atividade da água nos alimentos. A água que se encontra disponível influencia o crescimento microbiano, o que faz com que esta diminuição da sua atividade, proporcionada pelo sal, permita controlar o crescimento e multiplicação de microrganismos patogénicos. De facto, o sal tem um papel importante na preservação e segurança microbiológica de alguns produtos alimentares e a sua ausência pode despoletar um rápido crescimento de microrganismos, para além de tornar o prazo de validade mais curto. Para além disso, é possível verificar em alguns estudos que a redução de sal afeta as caraterísticas sensoriais, nomeadamente a textura e o sabor.
Reduzir a quantidade de açúcar presente nos alimentos é também um desafio, uma vez que a sua redução irá alterar as caraterísticas dos produtos, nomeadamente, o sabor, textura e aparência.
Conseguimos perceber, desta forma, que é um processo complexo para a indústria fazer estas reduções, uma vez que têm impacto a nível sensorial, o que leva a uma grande necessidade em estudar bastante o produto para conseguir encontrar ingredientes alternativos que permitam manter caraterísticas semelhantes e, principalmente, que continue a agradar o consumidor!
Quais é que são as próximas metas estabelecidas para a indústria?
A indústria alimentar tem sido desafiada pela Direção Geral de Saúde através da sua Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS) e tem vindo, por isso, a trabalhar em reduções há alguns anos e isso reflete-se na oferta alimentar que encontramos quando vamos aos supermercados! Ficam aqui as próximas metas:
Sal:
- Batatas fritas e snacks salgados: redução de 12% até 2022
- Pizzas: redução de 10% até 2022
- Refeições prontas: redução até 0,9g/100g até 2023
- Sopas pré-embaladas prontas a consumir: redução até 0,3g/100g até 2023
Açúcar:
- Cereais de pequeno-almoço: redução de 10% até 2022
- Refrigerantes: redução de 10% até 2022
- Iogurtes, leites fermentados e achocolatados: redução de 10% (do açúcar adicionado) até 2022
- Néctares de fruta: redução de 7% até 2023
Estas reduções irão abranger mais de 2000 produtos alimentares e são, certamente, o caminho mais acertado para a promoção de uma alimentação mais saudável!
O papel da Nutrialma
Enquanto empresa especialista na área da alimentação, a Nutrialma dispõe de uma equipa de nutricionistas que tem apoiado os seus parceiros da indústria alimentar a otimizar e a encontrar alternativas para melhorar nutricionalmente os seus produtos.
Acreditamos que este deve ser o caminho e que todos devemos contribuir para o bem do consumidor… afinal, somos todos consumidores!
Abrace a sua saúde connosco!
Referências:
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