Sustentabilidade Alimentar – porque é necessário um sistema alimentar sustentável?

Sustentabilidade Alimentar – porque é necessário um sistema alimentar sustentável?

Com a evidência científica crescente nos últimos anos, os indivíduos ganharam maior consciência sobre o papel fundamental da alimentação na saúde. No entanto, muitos desconhecem o impacto que a produção e o consumo de alimentos tem nos recursos mundiais. Para além dos automóveis que conduzimos e da energia que utilizamos para aquecer as nossas casas, os alimentos que produzimos e consumimos têm um impacto significativo no ambiente através, por exemplo, das emissões de gases com efeito de estufa, da utilização da terra e dos recursos hídricos, da poluição e do impacto dos produtos químicos, como herbicidas e pesticidas. Uma alimentação sustentável e os alimentos sustentáveis referem-se aos alimentos que podem ser produzidos de forma que não seja comprometida a capacidade das gerações futuras de produzir alimentos com igual qualidade.

O que é a sustentabilidade e uma alimentação sustentável?

A Organização das Nações Unidas (ONU) para Alimentação e Agricultura define sustentabilidade como as práticas que permitem garantir os direitos do homem, satisfazendo as necessidades presentes e futuras, sem causar danos irreversíveis no ecossistema e sem comprometer as gerações futuras. O conceito de sustentabilidade é um conceito multidimensional que engloba a integridade ambiental, o bem-estar social, a resiliência económica e a boa governação.

Desta forma, uma alimentação sustentável consiste numa alimentação de baixo impacto ambiental, que contribui para a segurança alimentar e nutricional da população, assim como para o seu estado de saúde, tanto no presente como no futuro. Uma alimentação sustentável protege e respeita a biodiversidade e o ecossistema, permitindo otimizar os recursos naturais e humanos. Para além disso, trata-se de uma alimentação culturalmente aceite, nutricionalmente adequada, acessível pela população, segura e economicamente justa.

Os alimentos sustentáveis devem ser produzidos com recurso a métodos de produção que respeitem o bem-estar do ambiente, dos animais, dos produtores e dos consumidores. Não devem ser alimentos processados, de modo a minimizar a quantidade de recursos utilizados. Desta forma, devem ser locais – ou seja, alimentos que são produzidos na proximidade, tendo uma cadeia de distribuição curta – e sazonais – ou seja, alimentos frescos, que se encontram disponíveis localmente e em condições de maturação adequadas para consumo. São alimentos com um custo económico e ambiental mais baixo comparativamente aos alimentos fora da época, nomeadamente porque utilizam menos cadeiras de frio e menos conservantes. Adicionalmente, podem apresentar melhores características organoléticas (sabor, odor e cor) e nutricionais.

Quais são os indicadores ambientais?

A pegada ecológica, hídrica (água) e de carbono são utilizadas como uma estimativa do impacto que o estilo de vida atual exerce sobre o planeta.

  • Pegada ecológica: mede a superfície de terra, biologicamente produtiva, e a água necessária para substituir os recursos utilizados e absorver os resíduos produzidos em relação à capacidade da Terra de regenerar os recursos naturais. A produção alimentar utiliza cerca de 40% da superfície da terra biologicamente produtiva.
  • Pegada de carbono: calcula a emissão de gases com efeito de estufa, durante o ciclo de vida do alimento (medida em gramas de C02). Entre 22 e 35% da pegada ecológica e emissões de gases com efeito de estufa são gerados pela produção e consumo de alimentos, e cerca de 15% destas emissões dizem respeito ao setor pecuário.
  • Pegada hídrica: mede a quantidade de água doce, em L ou m3, disponível. Também corresponde à quantidade de água utilizada para a produção dos alimentos e matérias-primas. A produção alimentar utiliza cerca de 70% do total de água doce.


Porque é que uma alimentação sustentável é importante?

Hoje em dia, mais de três biliões de pessoas sofrem de desnutrição e grande parte da população mundial tem maus hábitos alimentares, ou seja, de baixa qualidade nutricional. Ao mesmo tempo, a população mundial está a crescer rapidamente, e estima-se que haverá cerca de 10 biliões de pessoas no nosso planeta até 2050. Esta evolução implicará um aumento, cerca de 60%, na produção global de alimentos, e, consequentemente, uma maior pressão sobre os recursos naturais. Ao considerar o desenvolvimento alimentar sustentável, o objetivo é assegurar um futuro com alimentos suficientes e de igual acesso para todos, e de boa qualidade nutricional.

Em 2015, a ONU estabeleceu uma Agenda para o Desenvolvimento Sustentável até 2030. Foram definidos 17 objetivos, com o intuito de assegurar para as gerações futuras um planeta mais seguro e saudável. No âmbito da sustentabilidade alimentar, a ONU para a Alimentação e Agricultura apresentou cinco eixos principais para desenvolver o tema – melhorar a eficiência na utilização dos recursos; ter uma ação direta para conservar, proteger e melhorar os recursos naturais; proteger os meios rurais de subsistência e melhorar a equidade e o bem-estar social; melhorar a resiliência das pessoas, comunidades e ecossistemas, especialmente as alterações climáticas e a volatilidade dos mercados; e promover a boa governação para uma melhor sustentabilidade dos sistemas naturais e humanos.

O setor agrícola é dos principais responsáveis pelas alterações ambientais, onde se incluem as alterações climáticas, a desflorestação, a desertificação e as deteriorações nos ecossistemas marinhos, sendo a produção alimentar um dos maiores fatores que ameaça a extinção de espécies. Estas alterações ambientais podem levar a mudanças irreversíveis e catastróficas no sistema terrestre, que estão relacionadas com o aumento da mortalidade e morbilidade humana, conflitos mundiais e insegurança alimentar.

De facto, os nossos sistemas alimentares não são sustentáveis, e se queremos atingir os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável precisamos de agir rapidamente, nomeadamente refletindo e reconsiderando a forma como comemos e como os alimentos são produzidos. Alcançar um sistema alimentar saudável e sustentável é uma questão urgente que depende dos esforços e colaboração dos governos - são necessárias políticas nacionais e económicas para potenciar os produtos sustentáveis -, dos setores privado e público, e dos indivíduos - uma mudança no panorama da produção alimentar depende de uma mudança nos nossos hábitos alimentares.