“The Lisbon call to action” - Mundo digital e alimentação
O que é necessário fazer para proteger as crianças e adolescentes em relação aos ambientes obesogénicos digitais?
O papel dos ambientes alimentares na prevenção e controlo da obesidade tem sido amplamente reconhecido nos últimos anos. A utilização generalizada do mundo digital, que foi fortemente acelerada no contexto da pandemia COVID-19, tem vindo a sensibilizar para os novos ambientes online, em que os consumidores se envolvem com diferentes serviços, atividades e informações que podem influenciar as decisões sobre a aquisição, preparação e consumo de alimentos.
O mundo digital e a alimentação
No ambiente alimentar digital temos a presença de diferentes atividades/serviços, programas/aplicações e atores que influenciam o que as pessoas compram, e consequentemente, o que consomem. Em articulação temos a atuação do marketing digital, da venda online de alimentos e produtos alimentares, dos websites e das aplicações para os smartphones, bem como a presença dos influenciadores digitais das redes socias.
Estas tecnologias têm um impacto direto na compra de alimentos, sendo que tem sido notada uma crescente adesão ao comércio eletrónico de alimentos, seja através da compra nos websites dos hipermercados ou mesmo a partir de aplicações de entrega de refeições, que conferem uma maior acessibilidade a opções alimentares não saudáveis, e, também, contribuem para um aumento do sedentarismo.
Enquanto uma mensagem publicitária, em meios tradicionais, leva frequentemente entre quatro e sete exposições para alterar um comportamento alimentar, os meios digitais conseguem com que essa mensagem seja transmitida de uma forma mais rápida, sendo necessárias menos exposições para a alteração potencial de um comportamento. Para além disso, o marketing digital levanta preocupações relacionadas com a proteção de dados e privacidade, particularmente importante quando se fala da proteção de crianças e adolescentes.
Que ações podem ser tomadas para reduzir a exposição a ambientes obesogénicos no mundo digital?
A exposição ao marketing de alimentos não saudáveis continua a ser uma questão significativa, exigindo a proteção de todas as crianças por igual. A limitação do marketing de alimentos é uma estratégia preventiva essencial contra a obesidade infantil. Existe a necessidade de formular um conjunto de ações para várias entidades e públicos de forma a potenciar o acesso a uma alimentação mais saudável através do mundo digital, que se encontra cada vez mais presente na vida de todos.
“The Lisbon Call to Action”, que surgiu no âmbito da conferência “Future steps to tackle obesity: digital innovations into policy and actions”, trata-se de uma iniciativa da Presidência Portuguesa do Concelho da União Europeia, em particular do Ministério da Saúde, em conjunto com o Escritório Regional para a Europa da Organização Mundial de Saúde, para proteger as crianças e adolescentes em relação aos ambientes obesogénicos digitais, através da redução da exposição ao marketing digital de alimentos não saudáveis e ao potenciar as oportunidades do mundo digital para melhorar a acessibilidade e a viabilidade económica de alimentos saudáveis e ambientalmente sustentáveis. Faz-se um apelo à ação por parte de stakeholders decisivos, nomeadamente os governos, os pais e família, a escola e a comunidade escolar, os operadores económicos do setor alimentar e marketers, os criadores de conteúdo digital (influenciadores), os programadores, a academia, bem como a organizações da sociedade civil e não governamentais.
Relativamente aos pais e família:
- Compreender e reconhecer os riscos para a saúde da exposição das crianças ao marketing de alimentos não saudáveis, desde a mais tenra idade.
- Monitorizar e regular o acesso das crianças a ferramentas e dispositivos digitais. Os pais e as famílias devem encorajar a redução da exposição digital e online das crianças.
Escola e a comunidade escolar:
- Apoiar crianças e adolescentes no desenvolvimento de competências relacionadas com a navegação através do ambiente digital, incluindo a capacidade de determinar a credibilidade das fontes online e da informação, bem como o desenvolvimento de competências sociais online.
- Desenvolver e aumentar a literacia online e digital entre as crianças e os adolescentes.
Operadores económicos do setor alimentar e marketers:
- Comprometer-se com uma comunicação responsável de marketing de alimentos e bebidas.
- Comprometer-se a não fazer publicidade de produtos alimentares não saudáveis a crianças.
Criadores de conteúdo digital (influenciadores):
- Reconhecer a responsabilidade social como influenciadores das preferências e comportamentos das crianças e adolescentes.
- Comprometer-se a ter uma comunicação responsável sobre alimentação saudável, nutrição e saúde.
- Estar empenhado em não fazer publicidade a produtos alimentares não saudáveis a crianças ou gerar conteúdos que promovem este tipo de consumo e padrões não saudáveis.
Apela-se à consciência social, e governamental, para esta realidade cada vez mais presente, no intuito de colocar em ação medidas preventivas de combate à obesidade infantil e para a promoção de uma alimentação mais saudável, equilibrada e sustentável, através do recurso às plataformas digitais da atualidade.